domingo, 28 de novembro de 2010

"VAMOS FAZER O QUE AINDA NÃO FOI FEITO"

MONOLOGO DO ZÉ POVINHO COM SÓCRATES - música de Pedro Abrunhosa


Sei que me vês
Sou um dos muitos que tu ignoras
Mais um que tu sabes que exploras
Pobre de mim…
A minha revolta não se esconde
Vou procurar-te ainda não sei onde
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Trago-te em mim
Inverno, Primavera, Outono, Verão
Quero livrar-me de ti
E com razão
Vamos fazer o que ainda não foi feito.

E eu
Sou mais um dos que com raiva rebento
Estragas meu mundo e só provocas lamento
Pois temos tanto a reclamar
Sai do Governo
Já foste longe a vida toda
És um estorvo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais

Eu sei que dói
Sei como foi, aguentares tão só por esta rua
Os nomes que te chamam
E tu na tua
Esse teu rosto insolente é o teu jeito
Nunca fizeste o que ainda não foi feito
Sabes quem sou
Aqui estou
Zé Povinho que não alinha
As portas vão fechar-se
E eu na minha
A tua imagem é já uma mancha sem jeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito
REFRÃO

Faz-te à estrada
Deixaste-me uma mão cheia de nada
Somos um todo muito mais que imperfeito
Eu estou inteiro e tu desfeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito

REFRÃO 26/Nov/2010

domingo, 8 de agosto de 2010

NUDEZ

Pousei em estrelas, vesti-me de luar
gritando o meu amor aos quatro ventos
papagaio solto em cores, pelo ar,
ocultando seus gritos e lamentos

Tive por companhia a minha mágoa
a noite escura foi minha guarida
tantas vezes meus olhos rasos de água
aninharam a minha dor esquecida

Cantei a emoção em tom de verso
deixei meu pensamento assim disperso
voando porta a porta, rua a rua

Mostrei meu coração a toda a gente
e solucei ao ver quão indiferente
é ao mundo eu ter ficado nua.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

FOGO

Oh, labaredas sinistras
Oh, fogo de cada ano
quanto mais verdes conquistas
maior é o nosso dano

Lambes florestas inteiras
em vento endemoninhado
causas tristeza, canseiras,
a tanto povo ignorado

E tudo cobres de negro
sem remorsos nem pudor
destróis sem qualquer apego
lares que foram de amor

E até vidas humanas
tu levas em rodopio
nas cavalgadas insanas
de ventos em desafio

Fogo cruel, assassino,
ávido de destruição
arrasas num desatino
tanta vida e ganha pão

Mas mais terrível ainda
é o ser humano estar
em calamidade infinda
na malvadez a vingar

quinta-feira, 22 de julho de 2010

TRISTEZA

Já nada sei dizer que valha a pena
o meu ardor de tão silenciado
deixou fugir assim o meu poema
num cântico de amor assaz magoado

Há um jardim de flores já ressequidas
onde perpassa uma bruma hesitante
murmúrios de palavras esquecidas
pertença do meu coração errante

O que farei de mim sem a poesia
despida de ilusão, de fantasia,
o meu sonho perdido, esventrado?

Serei alguém envelhecida e triste
alguém que se não ama e assim desiste
na ausência dum poema lado a lado

DESPEDIDA

À memória do amigo e poeta COUTO VIANA

Choram por ti todas as palavras
deste meu poema triste.
Partiste.
E só podia ser
como um grande português,
destinado para ti
o dia e o mês.

Partiste,
mas ainda a poesia lavras
na terra fecunda
onde a cultura, o amor e os sonhos
semeaste.
Não morreste, POETA,
apenas nos deixaste.

Tua figura insigne
como esquecê-la?
Diz-nos,
onde poderemos procurar-te,
em que estrela, em que estrela?

10 Junho 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

SOC(R)ÂNTICO NEGRO

"Salta daí"- dizem-me alguns com os olhos ferozes
empurrando-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem:"salta daí"
eu olhos-os apenas segundos escassos
(há nos olhos meus ironias e fracassos)
e faço o manguito com os meus braços
e nunca salto daqui..
A minha glória é esta:
criar ambiguidades
não ligar a ninguém
- que eu vivo com o mesmo à vontade
com que comprei um belo apartamento à minha mãe -
Não, não salto daqui. Só vou por onde
me levam as minhas próprias ambições.
Se ao que busco saber a Oposição não me responde
porque me repetis: "salta daí"?
Prefiro fazer escorregar défices
redemoinhar eventos
como farrapos arrastar portugueses ao desalento
a sair daqui...
Se vim ao mundo foi
só para desflorar governos virgens
e desenhar meus próprios pés nesta democracia desgraçada
o mais que faço não vale nada.
Como pois, sereis vós
que com esta crise me dareis impulsos
ferramentas, tereis a coragem
para me derrubar?
Corre nas minhas veias sangue velho dos socialistas
e vós odiais as minhas listas.
Eu amo o Longe e não vejo nenhuma viragem.
Amo o poder, as correntes,os meus adeptos.
Ide! Já tendes auto estradas,
tendes pontes, aeroportos, TGV's
tendes computadores Magalhães outra vez
e tendes regras, e tratados, filósofos e sábios...
Eu tenho a minha arrogância
levanto-a, como um facho, a arder em constância
e sinto espuma e sangue e insolência nos lábios.
O Socialismo e o Diabo é que me guiam, mais ninguém
Todos tiveram oportunidade de me derrubar também.
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
renasci do vosso voto, ao fim e ao cabo.
Ah!, que ninguém me dê venenosas intenções
ninguém me peça explicações
(as sondagens dão-me a maioria
e "manso, pá, é a vossa tia")
Ninguém me diga:"salta daí"!
A minha vida é um Outlet que se soltou
é uma onda de protestos que se abafou
é um átomo a mais que ao meu poder se juntou.
Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
Sei que não salto daqui!


(que José Régio me perdoe)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Eu soneto me confesso

Com sonetos me levanto
bem cedo pela manhã
ainda tonta de quebranto
já sou poeta louçã

Com a lira lavo os dentes
ponho rima no cabelo
os versos brotam contentes
da torneira, é só colhê-los

O pão com mel é barrado
em mistura de poesia
café com leite pingado
tem sabor a fantasia

Há quadras nos meus sapatos
e quintilhas nos vestidos
ando pra cá e pra lá
de pensamentos perdidos

Em vez de pegar nas chaves
quando vou sair de casa
num doce bailar de aves
levo flores em cada asa

Entro então no autocarro
e puxo da minha lira
na multidão não reparo
estou só num mundo que gira

Quando entra o revisor
olho pra ele é CAMÕES
e se mostro o meu bilhete
já estou em divagações

Em métrica me mantenho
todo o dia a versejar
meu corpo não tem tamanho
é um poema a andar

E o dia passa a correr
em marcha parnasiana
já nada pode conter
a minha aventura insana

Por musas sou escoltada
num deambular de emoções
minha sina está traçada
a mente em contradições

Conto sílabas, divago,
em rima me aconteço
no peito um poema trago
o meu tempo não tem preço

E esta doce simbiose
é tudo o que à vida peço
que venha a osteoporose
eu poeta me confesso

quinta-feira, 18 de março de 2010

COMO VAI ESTE PAÍS

Como está, Sr Contente
Como vai Sr Feliz
Diga à gente, diga à gente
Como vai este País

Este País está doente
E parece não ter cura
Nunca mais anda prá frente
Faz uma triste figura

Entrámos num novo ano
Que não promete ser bom
E o combate mano a mano
Só faz é subir de tom

cada vez mais desemprego
E o Povo a passar mal
País em desassossego
E o que se faz, afinal?

Qual foi a primeira lei
Plo Governo discutida?
Foi o casamento gay
(muito importante na vida )

Abre-se os olhos de espanto
Com todo este processo
É total o desencanto
Incrível todo este excesso

Anda tudo alucinado
Com a falta de justiça
Mas vai-se cantando o fado
E gritando: Chiça, Chiça!

Um País cheio de sol
Com tanta gente capaz
Mas que faz parte dum rol
Que refila e nada faz

E há sempre aquele optimista
A vender sonhos em vão
Pensando que assim conquista
Um Povo em grande tensão

Eu faço à minha maneira
A minha revolução
Critico e atiro certeira
A quem me faz “comichão”

Criticarei, criticarei,
Até que a voz me doa
O meu fel destilarei
Corrupção não se perdoa

Oh, gente da minha terra!
Oh gente do meu País
Não é preciso uma guerra
Pra sermos povo feliz

Mas pra isso há que lutar
E tem que se erguer a voz
Pois se isto continuar
O que irá ser de nós?

O FASCÍNIO DO EFÉMERO

O FASCÍNIO DO EFÉMERO


Gasta-se em desabafos a verdade
em cúmplices engodos se deslaça
a vida entre a loucura e a sanidade
sempre no tempo a passar é qu'embaraça

Conservar as memórias? Vã cruzada!
Beleza reter? Ambição perdida.
O interesse em seguir a nossa estrada
existe, porque a morte é o fim da vida

Vejo o tempo a correr, monotonia...
na ausência de ilusão, de fantasia,
na aridez de instantes em declínio

O estável, duradouro, para quê?
Só nos surpreende o que não se prevê
e só no que é fugaz dura o fascínio.

O P.D.I. com hu(A)mor

Alguém disse e muito bem
que quando se envelhece
há três coisas que convém
manter e, nunca se esquece:

os óculos para enxergar
dentadura pra comer
e, para o céu alcançar,
uma Bíblia pra se ler

Digam lá que a velhice
também não tem seus encantos?
Todos querem lá chegar
mesmo que com alguns prantos

Não sei de quem foi a ideia
de pôr rótulo à idade
primeira, segunda, terceira,
até parece maldade

É certo que vai doendo
aqui, ali, acolá,
mas, mesmo com ais gemendo,
se pode ficar por cá

Já não tem a mesma graça
já não é tão divertido
há sempre um mal que embaraça
o tempo é menos comprido

A comida faz azia
dorme-se menos e mal
o prazer faz alergia
sorrir de quê, afinal?

Para se atar o sapato
a perna tem que torcer
a barriga sai do fato
já nada há a fazer

No entanto, a vida é bela,
mesmo que de entorses cheia
cada um governe a sua
e não perturbe a alheia

E assim cantando e rindo,
levados, levados, sim...
vamos todos resistindo
eu cá, só falo por mim...

GAZETILHA PESSOANA

.

O português é um cuspidor
cospe tão assiduamente
que chega a fingir que é cuspo
o cuspo que deveras sente



É um tique nacional
mais do sexo masculino
por tudo e nada se cospe
no Portugal pequenino.
Dá-se três passos, já está,
lá vem a tal cuspidela
cospe-se à frente e atrás
e até pela janela.
Já dei por mim a pensar
não será de Otorrino
que precisa o português
pra curar tal desatino.
Que se fala muito, fala,
e falar seca a garganta
será por isso que cospem
tanto nesta terra santa?
Se a energia solar
em cuspo se transformasse
Portugal cuspido ao sol
era país de realce.
Como tal não é possível
só nos resta desejar
que o português se coíba
de tanto cuspir pró ar.
Pois o acto de cuspir
mais não é que a triste cena
de um português que, afinal,
nem tem a alma pequena.

AMIZADE dedicado a todos os meus amigos

Amigo é algo terno, comovente
riqueza inigualável, sem ter preço
é mesmo estando longe estar presente
aliança sem fim e sem começo

uma alma em dois corpos, curioso,
ver as grandes diferenças superadas
é estar unido em desgraça, em gozo,
e conservar as mãos entrelaçadas

Não há nenhum sentimento mais puro
nem existe um abrigo mais seguro
do que ter um amigo de verdade


Solidão, mágoas, risos, as loucuras
amálgama transformada em ternuras
fazendo face a qualquer tempestade

DIA DE ANIVERSÁRIO dedicado aos SEMPRE JOVENS

FOI UM LEVE BATER DE ASAS
FOI UM MURMÚRIO DE CANÇÃO
FOI SURPRESA
SOBRESSALTO
FOI FRÉMITO
RISO, EMOÇÃO

FOI O POEMA DA VIDA
ESCRITO EM TEMPO COMOVIDO
FOI UM SIMPLES RENASCER
DESLUMBRADO
APETECIDO

FOI LEVE SOPRO DE BRISA
AFAGO EM FIOS DE PRATA
DANÇA DE DIAS
MEMÓRIA
QUE O AMOR
FINDA E REATA

FOI UM LEVE BATER DE ASAS
QUE NO ESPAÇO REBOOU
UM PRESENTE
JÁ PASSADO
QUE AO FUTURO SE ANINHOU

ALEIXO - aqui e agora

Hoje acordei com Aleixo
grande poeta português
e aqui no BLOG eu deixo
o que ele disse uma vez:

SEI QUE PAREÇO UM LADRÃO
MAS HÁ MUITOS QUE EU CONHEÇO
QUE NÃO PARECENDO O QUE SÃO
SÃO AQUILO QUE EU PAREÇO

Quadra com actualidade
ladrões são cada vez mais
alguns têm qualidade
mas nem todos são iguais

Ainda há quem tape a cara
quando resolve roubar
mas noutros nem se repara
com a cara por tapar

É vê-los na Televisão
com ar de santos meninos
Esta é a nossa Nação:
PORTUGAL DOS PEQUENINOS

E a Justiça nada faz
já ninguém crê na Justiça
e o português nem capaz
é de berrar: chiça, chiça!

Carneiros em demasia
lá seguimos o pastor
que em grande demagogia
se mantém bom orador

Lá vamos rindo e cantando
levados, levados, sim
pela voz do som pensando:
será que isto tem um fim?

Perdoem hoje acordei
com a maldade na língua
mas talvez porque bem sei
que há gente que vive à míngua

Se o Pai Natal conseguisse
uns pacotes de decência
talvez os distribuísse
com muito mais consciência

E os deixasse tombar
sobre algumas chaminés
percorrendo sem parar
Portugal de lés a lés

EM LOUVOR DO LUME

EM LOUVOR DO LUME


Agora que o frio começa a apertar é sempre gostoso recordar este poema:



Na lareira as labaredas
de tão contentes que estão
vão lançando chispazinhas
trauteando uma canção

Brincam a saltar, ligeiras,
crepitando de alegria
fazem desenhos na pedra
da lareira, em fantasia

Em curtos trejeitos tentam
cada vez subir mais alto
e há coros de gargalhadas
a soar em cada salto

Gosto de vê-las tão rubras
em brincadeiras de lume
enquanto as achas exalam
doce e lenhoso perfume

Quando depois já cansadas
se aquietam de mansinho
num ninho morno de cinzas
dormem como um passarinho

E também eu vou dormir
levando as brasas comigo
no fundo do meu olhar
onde guardá-las consigo

POEMIXTO - ANEDOTA

POEMIXTO - ANEDOTA


ERA UMA VEZ UM CASAL
QUE SE DAVA MUITO MAL
E DECIDIU AFINAL
DE FORMA BILATERAL
RESOLVER EM TRIBUNAL
SEPARAÇÃO IDEAL
CONTANDO TAL E QUAL
DUMA FORMA ORIGINAL
O DESASTRE TOTAL
DA LIGAÇÃO CONJUGAL

ERA UM PAR MUITO ENGRAÇADO
ELE PEQUENO, MAGRO, ENFESADO,
METRO E MEIO MAL AMANHADO
ELA UMA MULHER ENORME
GORDA, FEIONA, DISFORME
COM QUEM ELE NUNCA DORME
SEM QUE COM TAL SE CONFORME

ENTRA NA SALA O JUIZ
HOMEM DE GRANDE NARIZ
QUE CARREGA DE PETIZ
VEM DE TOGA PRETA E DIZ:

COMEÇOU A AUDIÊNCIA
TEM O CASAL CONSCIÊNCIA
ESTÃO OS DOIS EM ANUÊNCIA
MEDITARAM COM PRUDÊNCIA
DO DIVÓRCIO A CONSEQUÊNCIA?
NÃO QUEREM RECONSIDERAR
AINDA PODEM EVITAR
O DIVÓRCIO CONSUMAR

LEVANTA-SE O HOMEM E DIZ:

NÃO, SENHOR DOUTOR JUIZ,
O DESTINO ASSIM O QUIS.
TENTÁMOS DE TODA A MANEIRA
NA CAMA, NO CHÃO, À LAREIRA
FOI SEMPRE UMA DESGRACEIRA
ACABAVA EM BEBEDEIRA
E DEPOIS EM CHORADEIRA.
O AMOR SEMPRE FALHOU
NUNCA O SEXO RESULTOU

ASSIM ELE SE QUEIXOU
E DEPOIS CONTINUOU:

SE TENTAMOS DAR UM BEIJO
BATEM OS MEUS PÉS NO QUEIJO
LÁ SE VAI O MEU DESEJO.
SE OS NOSSOS PÉS ESTÃO JUNTINHOS
TENHO A CARA NOS FUNDINHOS
NINGUÉM OUVE OS MEUS GRITINHOS
FICO A OLHAR DE REVÉS
VEJO TUDO PRETO E DE VIÉS
E SÓ ME APETECE FUGIR A SETE PÉS.

SE O NOSSO SEXO FICA ALINHADO
SINTO-ME TÃO SÓ, TÃO DESAMPARADO
ALI PERDIDO, MUDO, SUFOCADO...
DISSE O HOMEM DESESPERADO

CONSIDEROU O JUIZ PERTINENTE
O ARGUMENTO DAQUELE HOMEM DESCONTENTE
A EVIDÊNCIA ESTAVA À SUA FRENTE.
TOMOU ENTÃO ATITUDE DECENTE
E CONCEDEU AO CASAL
O DIVÓRCIO QUE, AFINAL,
TEVE PARANGONAS NO JORNAL
E LHES VALEU CONTRACTO ESPECIAL
PARA ACTUAÇÃO NO CIRCO CRISTAL

O ADEUS

DISSESTE-ME ADEUS E, DE REPENTE,
O MAR RUGIU MAIS FORTE, SOLUÇOU,
O CÉU ESCURECEU, FICOU DIFERENTE
E NO MEU PEITO O CORAÇÃO PAROU

SOZINHA NA PRAIA, AFOGADA EM ESPUMA,
NÁUFRAGA DE AMOR QUEDEI ALHEADA
RECORDEI TEU ROSTO PERDIDO NA BRUMA
ESCREVI TEU NOME NA AREIA MOLHADA

AMBOS TE ESPERAMOS AGORA, O MAR E EU,
NUMA ÂNSIA QUE O TEMPO NÃO VENCEU
EM SOLIDÃO PEJADA DE DESEJOS

O MAR SEMPRE EM ONDAS MURMURANDO
SONS DIFUSOS QUE TE VÃO LEMBRANDO
E EU ANSIOSA À ESPERA DOS TEUS BEIJOS

REFÚGIO

QUANTAS VEZES ME APETECE
EM RASGOS DE REBELDIA
FUGIR E ENTÃO ESTREMECE
O MEU PEITO EM OUSADIA

FICO ALHEADA DE TUDO
NO MEU SILÊNCIO DE BÚZIO
E DESÇO FUNDO, BEM FUNDO,
PRA ENCONTRAR MEU REFÚGIO

É UMA ROCHA CAVADA
DECORADA COM CRISTAIS
ENTRO NELA DESLUMBRADA
NÃO QUERO SAIR JAMAIS

AÍ ME PERCO E ME ENCONTRO
ME CRITICO E ME ENALTEÇO
E AS FORÇAS COM QUE ME AFRONTO
SÃO TAMBÉM ELAS MEU BERÇO

PERCORRO ESTE MEU PALÁCIO
VESTIDA DE RENDA E ESPUMA
PREPARO O MEU EPITÁFIO
FEITO DE COISA NENHUMA

NESTE MUNDO IGNOTO E BELO
APENAS EU TENHO ACESSO
SOU CASTELÃ NO CASTELO
QUE É TODO O MEU UNIVERSO

E HÁ FESTINS DE POESIA
NOITE ADENTRO, NUM LIRISMO
ENTRE O CHEIRO A MARESIA
E PEDAÇOS DE EROTISMO

MULHER - ARCO-IRIS DA VIDA

É cor de rosa o Amor
tem cor vermelha a paixão
de tom cinzento é a dor
esverdeada a ilusão

A Saudade é amarela
a Raiva é arroxeada
do tom doce da canela
é o Riso e a gargalhada

Cor de laranja o Desejo
o Medo castanho escuro
é sempre matiz o Beijo
de cor verde é o Futuro

Tem cor creme a Indiferença
cor de malva a Sensatez
tom de azeitona a Descrença
é negra a Desfaçatez

O Prazer é multicor
tem todas as cores do mundo
interligado ao Amor
tem um tom muito profundo

A Poesia é dourada
tem brilho de entontecer
com ela a Vida é cantada
em canções de bem querer

Neste arco-íris da vida
está a MULHER desenhada
as alegrias e as dores
fazem dela matizada

Quando ama é vermelha
se acaricia é tom rosa
existe nela centelha
que a torna valorosa

Veste de todas as cores
MÂE-POVO e MÂE-CORAGEM
se chora seus desamores
o sorriso é a imagem

Mas há tom que não a cobre
é o cinza desmaiado
mesmo sendo rica ou pobre
nunca aceita o desbotado

É fogosa, multicor
MULHER TUDO, MULHER NADA
luta pela paz e amor
num arco-íris abraçada

GAZETILHA

Povo triste, meus amigos,
o tempo não ajuda, não,
férias de todos os perigos
e a pergunta:CADÊ O VERÃO?
Fogos, chuvas, ventania,
entristecem qualquer um
e o Governo em cada dia
que só faz PUM-CATRAPUM.
As taxas sobem demais
salários sobem de menos
e é a altura em que os pais
gastam tudo com os pequenos.
As aulas vão começar
e de novo é preciso
o cinto mais apertar
com amarelo sorriso.
Compre no EL CORTE INGLÊS
o material escolar
mas não pague duma vez
vá pagando devagar.
Espanhóis não têm pressa
pois, mais dia menos dia,
será cumprida a promessa
de Portugal ser fatia.
Fatia iberiana
que, aliás, até já é
e em música castelhana
iremos BERRAR: OOOOOOLLLÉ.

DESILUSÃO

Dei-te todos os símbolos
todas as metáforas.
Preparei-te a refeição dos deuses.
Escrevi para ti as palavras mágicas
para a entrada no reino.

Não soubeste comer o fruto
nem saborear o néctar
o milagre não aconteceu.

POETA

POETA
Acrescentei-me.

Quis ir mais lonje,

mais além...

Coração lusitano

à descoberta.

Marinheiro em desafio,

incauto num mar bravio,

lutando pra ser Poeta.

ESPANTO

ESPANTO
O meu corpo

já nada recorda

das insanidades da paixão.

As horas cruéis

à espera do teu beijo

suspensa do som dos teus passos.

O meu chão

já não te suspira

a minha boca

já não te canta...

Só esta tristeza

ainda me espanta.

POR TI

POR TI
É por ti que a vaga se agiganta.

É por ti o vento a sibilar.

É por ti que o grito na garganta

se solta, se expande

e quer ressumar.



É por ti que a vida faz sentido

Sussurrante tentáculo apetecido.

SEGURA O MEU AMOR

SEGURA O MEU AMOR
Porque hoje é o Dia dos Namorados aí vai para todos os enamorados:



Segura o meu amor entre os teus dedos

tal como a flor retém os seus odores

como cioso o mar guarda os segredos

e os amantes escondem os amores



Segura o meu amor entre os teus beijos

como em Abril respira a primavera

como a noite se enreda de desejos

para escutar o canto da Severa



E aí, bem seguro entre os teus dedos,

o meu amor então, perdidos medos,

vai cantar-te ao ouvido, de mansinho,



E em mensagem doce, dia a dia,

renascerá a paz e a alegria

e a vida passará, devagarinho...

POESIA ERÓTICA

POESIA ERÓTICA




INVENTA

(SE QUISERES)

MEU CORPO AO TEU DESEJO.

ALONGA OS DEDOS

PARA ME TOCARES

MAIS LONGE,

MAIS FUNDO.

DESENHA AS DUNAS

QUE O CAMINHO DA MINHA NUDEZ

TE SUGERIR.

PENETRA NAS CAVERNAS

ONDE UM QUALQUER MAR SALGADO

TE NAUFRAGUE.

E, SE O MEU CORPO SEREIA

TE CANTAR,

PRENDE-TE AO FULGOR DOS MEUS CORAIS

EM ORGASMOS

DE AZUL

E DE ESPUMA.

$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$

quarta-feira, 17 de março de 2010

NOITE

VEM PERCORRER A NOITE

NO MEU CORPO

O LUAR SUCUMBIU

AO BRILHO DO MEU OLHAR

E CAÍU EM MIL PEDAÇOS

HÁ ESTRELAS PERDIDAS

POR ENTRE OS MEUS CABELOS

E A BRISA CORRE, EM CARÍCIAS,

PELAS DUNAS SUAVES DO MEU PEITO

O SILÊNCIO ANINHOU-SE

NA PLACIDEZ DOS MEUS LÁBIOS FECHADOS

PELA MINHA PELE PERPASSA

A FRESCURA DE MANHÃS DESEJADAS

NA PLANURA BRANCA DO MEU VENTRE

TEM A NOITE O SEU RETIRO DE AMOR

E OS MEUS BRAÇOS

ADORMECEM TODOS OS CANSAÇOS...

VEM PERCORRER A NOITE

NO MEU CORPO

VEM COLHER EM MIM

A MADRUGADA....

GAZETILHA

HÁ CERTOS HOMENS IDOSOS

QUE PENSAM QUE MULHER NOVA

FAZ A VIDA TER MAIS GOZOS

E OS ANOS ASSIM RENOVA.

MAS COITADO, O INSENSATO,

ACABA POR DESCOBRIR

QUE OS ANOS SÃO COMO O GATO

SEMPRE A PULAR E A FUGIR.

ASSIM EM CORRIDA INVERSA

ANDA O CASAL A VIVER

VIDA MUITO MAIS PERVERSA

E O P.D.I. A CRESCER.

É ENTÃO QUE O HOMEM VELHO

QUE CASA COM MULHER NOVA

SE RECORDA DO CONSELHO:

"SERÁS CORNO OU VAIS PRÁ COVA.

OU ENTÃO MUITO PIOR

PRÁ COVA VAIS MAIS O CORNO

TUA VIDA FINDARÁ

SÓ RESTARÁ O ADORNO"

PARA A FRENTE, PORTUGAL

TEMOS SETE MARAVILHAS

ESTAMOS MARAVILHADOS

MAS SEM DINHEIRO E SEM "PILHAS"

PRA VIVER E, DESESPERADOS.

MAS O POVO É MESMO ASSIM

ADORA AS EXIBIÇÕES

ALIENADO E EM FESTIM

VAI JOGANDO O EUROMILHÕES.

O JOSÉ APERTA O LAÇO

O JOSÉ APERTA-O BEM

QUE O LAÇO BEM APERTADO

TRÁS O POVO DOMINADO

ORDEIRO E SEM VINTÉM.

MAS AINDA HÁ PARA OS FOGUETES

NA PRESIDÊNCIA EUROPEIA

PRA CONTINUARMOS JOGUETES

DOS LOBOS NA ALCATEIA.

OH!TEMPO, VOLTA PARA TRÁS!

DÁ-NOS TUDO O QUE PERDEMOS

QUE ESTE GOVERNO NÃO FAZ

NADA E NÓS NADA TEMOS.

UM POVO CHEIO DE TUDO

COM A MÃO CHEIA DE NADA

REVOLTADO EM GRITO MUDO

E ENGROSSANDO A CARNEIRADA.

PORTUGAL DOS MEUS AMORES

POR TANTOS MARES NAVEGADO

NÃO DEIXES ESTES SENHORES

TRATAREM-TE COMO GADO.

LANÇA AS TUAS CARAVELAS

RASGA OS MARES DA DESVENTURA

ESCREVE AUDÁCIA EM TUAS VELAS

IÇANDO A HISTÓRIA FUTURA.

O TELEMÓVEL

A COISA MAIS IMPORTANTE

APÓS A IDA DO INFANTE

Á DESCOBERTA DO MUNDO.

FOI A MÁQUINA INFERNAL

QUE APARECEU EM PORTUGAL

REVOLUCIONANDO A FUNDO

O TELEMÓVEL, POIS É,

PARA A MARIA E PRO ZÉ

E TAMBÉM PARA A CRIANÇA.

TODA A GENTE USA E ABUSA

A TER VÁRIOS NÃO SE ESCUSA

NÃO É BOM PARA A POUPANÇA

ELE ESTÁ EM TODO O LADO

E O MAIS SOFISTICADO

ESTÁ SEMPRE A SAIR Á PRAÇA.

MAIS PEQUENO E ATRAENTE

PARA AGRADAR AO UTENTE

DO BOLSO SAIR MAIS MASSA

CADA TOQUE É UMA SURPRESA

NOS TRANSPORTES OU Á MESA

É QUEM MAIS PODE ESCUTAR.

E AS SENHORAS ÁS PRESSAS

PÕEM MALAS ÁS AVESSAS

PARA O "DITO" ENCONTRAR

MAS QUANDO ISSO ACONTECE

ENTÃO MAIS O CLIMA AQUECE

COM GRITARIA A PRECEITO.

TUDO FALA Á DESCARADA

A CONVERSA É DEVASSADA

TEM QUE SE OUVIR, NÃO TEM JEITO

HÁ TELEMÓVEIS TOCANDO

COM MÚSICA ARRANHANDO

QUALQUER ESPECTÁCULO OU CONCERTO.

E MESMO EM MISSA DE MORTO

NÃO SE EVITA O DESCONFORTO

NÃO SE ESCAPA A ESTE APERTO

DESDE A RASPA AO TIROLIRO

DE BEETHOVEN AO SUSPIRO

DAS BALADAS AO ORGASMO.

SÃO TOQUES DOS MAIS DIVERSOS

E POLUENTES CONFESSOS

DE RUÍDOS E DE PASMO

JÁ TIRAM FOTOGRAFIAS

SÃO ÓPTIMAS COMPANHIAS

NA SOLIDÃO DO MOMENTO.

FAZEM-SE JOGOS DIFERENTES

E CADA VEZ MAIS CLIENTES

ADEREM AO INSTRUMENTO

E NÃO HÁ COMO FUGIR

NOVO MODELO A SURGIR

MAIS NOVIDADES NO AR.

OS LADRÕES ASSALTAM LOJAS

SÃO INCENTIVO PRAS CORJAS

CUJO NEGÓCIO É ROUBAR

O MENINO É ASSALTADO

O TELEMÓVEL ROUBADO

ISSO NÃO INTERESSA NADA.

COMPRA-SE OUTRO DIFERENTE

FICA O MENINO CONTENTE

E A FAMÍLIA DESCANSADA

E O TELEMÓVEL É ISTO

UMA GRAÇA, UM PETISCO

NA MÃO DE QUALQUER PESSOA.

E É CLARO A MALANDRAGEM

TEM UMA MAIOR TIRAGEM

MASMO QUE DOA A QUEM DOA

É DESVARIO TOTAL

ESTA MÁQUINA INFERNAL

ABUSO Á PRIVACIDADE.

POIS ENCONTRAR TODA A GENTE

MESMO EM MOMENTO INDECENTE

É ABUSO, É MALDADE

SE NUM FUTURO CANALHA

NINGUÉM MEXER UMA PALHA

PARA TRAVAR ESTE ENGENHO.

JÁ AQUI NÃO ESTÁ QUEM FALOU

O MEU TELE JÁ TOCOU

VOU ATENDER, TAMBÉM TENHO.

POETA, DOMÉSTICA, MULHER

Não é fácil, podem crer

ser poeta e ser Mulher

numa mão está a caneta

na outra está a colher

Qunata poesia existe

no peito a fervilhar

enquanto se mexe o tacho

onde está carne a guizar

Perfuma-se o pensamento

em permanente conflito

com um perfume a flores

misturado a peixe frito

E se um bolo se fizer

com os pensamentos dispersos

é vulgar acontecer

prá massa caírem versos

É uma mistura assanhada

ovos e rima em disputa

a massa fica estragada

a poeta numa luta

Luta pela fantasia

que pretende ser constante

quer fazer do dia a dia

amálgama delirante

Sem querer abdicar de nada

poesia e tacho ao braço

a poeta desesperada

fica sempre em embaraço

Eis a moral desta história:

não é mulher, nem poeta

nem a cozinha tem glória

nem a rima é completa

Mas continua a lutar

com a caneta e o tacho

pró poema preservar

e do Amor fazer facho

BLOGO. LOGO, EXISTO!!!

FIZ DA VIDA O MEU POEMA

Não fui que me inventei

brotei do nada

cresci.

O tempo foi escoando

e a vida saboreando

vivi.

Tive sonhos, ambições,

malogros e alguns sucessos

e há Pedaços meus dispersos

por aí...

Fui humana

fui mulher

fiz da vida o meu poema.

E, se por tudo o que amei,

algo de mim eu deixei,

já foi bom

valeu a pena.