segunda-feira, 26 de abril de 2010

SOC(R)ÂNTICO NEGRO

"Salta daí"- dizem-me alguns com os olhos ferozes
empurrando-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem:"salta daí"
eu olhos-os apenas segundos escassos
(há nos olhos meus ironias e fracassos)
e faço o manguito com os meus braços
e nunca salto daqui..
A minha glória é esta:
criar ambiguidades
não ligar a ninguém
- que eu vivo com o mesmo à vontade
com que comprei um belo apartamento à minha mãe -
Não, não salto daqui. Só vou por onde
me levam as minhas próprias ambições.
Se ao que busco saber a Oposição não me responde
porque me repetis: "salta daí"?
Prefiro fazer escorregar défices
redemoinhar eventos
como farrapos arrastar portugueses ao desalento
a sair daqui...
Se vim ao mundo foi
só para desflorar governos virgens
e desenhar meus próprios pés nesta democracia desgraçada
o mais que faço não vale nada.
Como pois, sereis vós
que com esta crise me dareis impulsos
ferramentas, tereis a coragem
para me derrubar?
Corre nas minhas veias sangue velho dos socialistas
e vós odiais as minhas listas.
Eu amo o Longe e não vejo nenhuma viragem.
Amo o poder, as correntes,os meus adeptos.
Ide! Já tendes auto estradas,
tendes pontes, aeroportos, TGV's
tendes computadores Magalhães outra vez
e tendes regras, e tratados, filósofos e sábios...
Eu tenho a minha arrogância
levanto-a, como um facho, a arder em constância
e sinto espuma e sangue e insolência nos lábios.
O Socialismo e o Diabo é que me guiam, mais ninguém
Todos tiveram oportunidade de me derrubar também.
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
renasci do vosso voto, ao fim e ao cabo.
Ah!, que ninguém me dê venenosas intenções
ninguém me peça explicações
(as sondagens dão-me a maioria
e "manso, pá, é a vossa tia")
Ninguém me diga:"salta daí"!
A minha vida é um Outlet que se soltou
é uma onda de protestos que se abafou
é um átomo a mais que ao meu poder se juntou.
Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
Sei que não salto daqui!


(que José Régio me perdoe)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Eu soneto me confesso

Com sonetos me levanto
bem cedo pela manhã
ainda tonta de quebranto
já sou poeta louçã

Com a lira lavo os dentes
ponho rima no cabelo
os versos brotam contentes
da torneira, é só colhê-los

O pão com mel é barrado
em mistura de poesia
café com leite pingado
tem sabor a fantasia

Há quadras nos meus sapatos
e quintilhas nos vestidos
ando pra cá e pra lá
de pensamentos perdidos

Em vez de pegar nas chaves
quando vou sair de casa
num doce bailar de aves
levo flores em cada asa

Entro então no autocarro
e puxo da minha lira
na multidão não reparo
estou só num mundo que gira

Quando entra o revisor
olho pra ele é CAMÕES
e se mostro o meu bilhete
já estou em divagações

Em métrica me mantenho
todo o dia a versejar
meu corpo não tem tamanho
é um poema a andar

E o dia passa a correr
em marcha parnasiana
já nada pode conter
a minha aventura insana

Por musas sou escoltada
num deambular de emoções
minha sina está traçada
a mente em contradições

Conto sílabas, divago,
em rima me aconteço
no peito um poema trago
o meu tempo não tem preço

E esta doce simbiose
é tudo o que à vida peço
que venha a osteoporose
eu poeta me confesso