domingo, 28 de novembro de 2010

"VAMOS FAZER O QUE AINDA NÃO FOI FEITO"

MONOLOGO DO ZÉ POVINHO COM SÓCRATES - música de Pedro Abrunhosa


Sei que me vês
Sou um dos muitos que tu ignoras
Mais um que tu sabes que exploras
Pobre de mim…
A minha revolta não se esconde
Vou procurar-te ainda não sei onde
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Trago-te em mim
Inverno, Primavera, Outono, Verão
Quero livrar-me de ti
E com razão
Vamos fazer o que ainda não foi feito.

E eu
Sou mais um dos que com raiva rebento
Estragas meu mundo e só provocas lamento
Pois temos tanto a reclamar
Sai do Governo
Já foste longe a vida toda
És um estorvo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais

Eu sei que dói
Sei como foi, aguentares tão só por esta rua
Os nomes que te chamam
E tu na tua
Esse teu rosto insolente é o teu jeito
Nunca fizeste o que ainda não foi feito
Sabes quem sou
Aqui estou
Zé Povinho que não alinha
As portas vão fechar-se
E eu na minha
A tua imagem é já uma mancha sem jeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito
REFRÃO

Faz-te à estrada
Deixaste-me uma mão cheia de nada
Somos um todo muito mais que imperfeito
Eu estou inteiro e tu desfeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito

REFRÃO 26/Nov/2010

domingo, 8 de agosto de 2010

NUDEZ

Pousei em estrelas, vesti-me de luar
gritando o meu amor aos quatro ventos
papagaio solto em cores, pelo ar,
ocultando seus gritos e lamentos

Tive por companhia a minha mágoa
a noite escura foi minha guarida
tantas vezes meus olhos rasos de água
aninharam a minha dor esquecida

Cantei a emoção em tom de verso
deixei meu pensamento assim disperso
voando porta a porta, rua a rua

Mostrei meu coração a toda a gente
e solucei ao ver quão indiferente
é ao mundo eu ter ficado nua.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

FOGO

Oh, labaredas sinistras
Oh, fogo de cada ano
quanto mais verdes conquistas
maior é o nosso dano

Lambes florestas inteiras
em vento endemoninhado
causas tristeza, canseiras,
a tanto povo ignorado

E tudo cobres de negro
sem remorsos nem pudor
destróis sem qualquer apego
lares que foram de amor

E até vidas humanas
tu levas em rodopio
nas cavalgadas insanas
de ventos em desafio

Fogo cruel, assassino,
ávido de destruição
arrasas num desatino
tanta vida e ganha pão

Mas mais terrível ainda
é o ser humano estar
em calamidade infinda
na malvadez a vingar

quinta-feira, 22 de julho de 2010

TRISTEZA

Já nada sei dizer que valha a pena
o meu ardor de tão silenciado
deixou fugir assim o meu poema
num cântico de amor assaz magoado

Há um jardim de flores já ressequidas
onde perpassa uma bruma hesitante
murmúrios de palavras esquecidas
pertença do meu coração errante

O que farei de mim sem a poesia
despida de ilusão, de fantasia,
o meu sonho perdido, esventrado?

Serei alguém envelhecida e triste
alguém que se não ama e assim desiste
na ausência dum poema lado a lado

DESPEDIDA

À memória do amigo e poeta COUTO VIANA

Choram por ti todas as palavras
deste meu poema triste.
Partiste.
E só podia ser
como um grande português,
destinado para ti
o dia e o mês.

Partiste,
mas ainda a poesia lavras
na terra fecunda
onde a cultura, o amor e os sonhos
semeaste.
Não morreste, POETA,
apenas nos deixaste.

Tua figura insigne
como esquecê-la?
Diz-nos,
onde poderemos procurar-te,
em que estrela, em que estrela?

10 Junho 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

SOC(R)ÂNTICO NEGRO

"Salta daí"- dizem-me alguns com os olhos ferozes
empurrando-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem:"salta daí"
eu olhos-os apenas segundos escassos
(há nos olhos meus ironias e fracassos)
e faço o manguito com os meus braços
e nunca salto daqui..
A minha glória é esta:
criar ambiguidades
não ligar a ninguém
- que eu vivo com o mesmo à vontade
com que comprei um belo apartamento à minha mãe -
Não, não salto daqui. Só vou por onde
me levam as minhas próprias ambições.
Se ao que busco saber a Oposição não me responde
porque me repetis: "salta daí"?
Prefiro fazer escorregar défices
redemoinhar eventos
como farrapos arrastar portugueses ao desalento
a sair daqui...
Se vim ao mundo foi
só para desflorar governos virgens
e desenhar meus próprios pés nesta democracia desgraçada
o mais que faço não vale nada.
Como pois, sereis vós
que com esta crise me dareis impulsos
ferramentas, tereis a coragem
para me derrubar?
Corre nas minhas veias sangue velho dos socialistas
e vós odiais as minhas listas.
Eu amo o Longe e não vejo nenhuma viragem.
Amo o poder, as correntes,os meus adeptos.
Ide! Já tendes auto estradas,
tendes pontes, aeroportos, TGV's
tendes computadores Magalhães outra vez
e tendes regras, e tratados, filósofos e sábios...
Eu tenho a minha arrogância
levanto-a, como um facho, a arder em constância
e sinto espuma e sangue e insolência nos lábios.
O Socialismo e o Diabo é que me guiam, mais ninguém
Todos tiveram oportunidade de me derrubar também.
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
renasci do vosso voto, ao fim e ao cabo.
Ah!, que ninguém me dê venenosas intenções
ninguém me peça explicações
(as sondagens dão-me a maioria
e "manso, pá, é a vossa tia")
Ninguém me diga:"salta daí"!
A minha vida é um Outlet que se soltou
é uma onda de protestos que se abafou
é um átomo a mais que ao meu poder se juntou.
Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
Sei que não salto daqui!


(que José Régio me perdoe)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Eu soneto me confesso

Com sonetos me levanto
bem cedo pela manhã
ainda tonta de quebranto
já sou poeta louçã

Com a lira lavo os dentes
ponho rima no cabelo
os versos brotam contentes
da torneira, é só colhê-los

O pão com mel é barrado
em mistura de poesia
café com leite pingado
tem sabor a fantasia

Há quadras nos meus sapatos
e quintilhas nos vestidos
ando pra cá e pra lá
de pensamentos perdidos

Em vez de pegar nas chaves
quando vou sair de casa
num doce bailar de aves
levo flores em cada asa

Entro então no autocarro
e puxo da minha lira
na multidão não reparo
estou só num mundo que gira

Quando entra o revisor
olho pra ele é CAMÕES
e se mostro o meu bilhete
já estou em divagações

Em métrica me mantenho
todo o dia a versejar
meu corpo não tem tamanho
é um poema a andar

E o dia passa a correr
em marcha parnasiana
já nada pode conter
a minha aventura insana

Por musas sou escoltada
num deambular de emoções
minha sina está traçada
a mente em contradições

Conto sílabas, divago,
em rima me aconteço
no peito um poema trago
o meu tempo não tem preço

E esta doce simbiose
é tudo o que à vida peço
que venha a osteoporose
eu poeta me confesso